Em segundos e usando como matérias prima, o cotidiano e as situações mais inusitadas, um repentista é capaz de produzir pérolas poéticas como estes versos de um dos maiores cordelistas do Brasil Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918), feitos de improviso:
“Meus versos inda são do tempo
Que as coisas eram de graça;
Pano medido por vara
Terra medida por braça
E um cabelo de barba
Era uma letra na praça”
Severino Pinto da Silva, vulgo Pinto do Monteiro (1895 – 1990), considerado um dos maiores repentistas que o nordeste já viu, nos presentou, numa de suas antológicas cantorias, o seguinte verso sobre a saudade:
“Esta palavra saudade
conheço desde criança
saudade de amor ausente
não é saudade (é lembrança)
saudade só é saudade
quando morre a esperança”
O poeta, cordelista e repentista José Geovaldo Gondim, vulgo Asa Branca do Ceará (1941), cunho estes versos em homenagem a Pinto do Monteiro, que pediu para que registrasse o seu lamento no mote “No fim da minha existência”, quando completou 90 anos de vida e que na época já se encontrava cego, com dificuldades para andar e cantar:
Ó mundo de ilusão
O qual não posso mais ver
Devido a escuridão
Que pairou no meu viver
Minhas noites são eternas
Escuras como cavernas
Da mais terrível aparência
Meus olhos se enegreceram
O brilho imenso perderam
No fim da minha existência
Quando Deus reto juiz
Chamar-me a eternidade
Atenderei bem feliz
A ordem da divindade
A vida é um episodio
Que deve se dar sem ódio
Sem duvida e sem mal carência
Quando eu estiver na cova
A cruz servira de prova
Do fim da minha existência
Texto: Samuel Quintans
Referencial bibliográfico: Antologia Ilustrada dos Cantadores
Referencial bibliográfico: Antologia Ilustrada dos Cantadores
De Francisco Linhares e Otacilio Batista
2a edição - 1982 - Ediçoes UFC - Fortaleza (CE)
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