Os estilos são os mais variados, sendo que os mais comuns numa cantoria são:
Baião de Sextilhas – usada normalmente para abertura das cantorias (como são chamados os eventos) e aquecimento dos cantadores. Cada cantador canta uma estrofe que segue uma regra rígida de rima, métrica e acompanhamento alternado de cada repentista da terminação ou “deixa”.
É muito comum o uso do baião para apresentar os cantadores, chamar a atenção dos presentes e estimular a participação financeira na cantoria, uma vez que os cantadores de improviso, com exceção das apresentações realizadas em congressos e eventos culturais não recebem cachê e nem couvert artístico.
Vamos apresentar um exemplo em que João Furiba, numa cantoria por ele arranjada, queria que Pinto do Monteiro iniciasse todos os baiões: contrariando o costume em que, ao Cantador convidado, cabe o “romper ou a saída” de cada baionada. Furiba insistiu; Pinto, tradicionalista por convicção, não cedeu terreno e manteve-se inflexível e o companheiro, finalmente, obdeceu a tradição:
João Furiba desafia:
Pinto velho, eu desejava
Qu´este baião fosse seu
Eu já rompi duas vezes;
Nenhuma você rompeu!
Que não vou servir de guia
Pra quem vê mais do que eu!
Pinto responde:
Tem razão! O trato é seu...
O povo e o ambiente
Do mesmo jeito, eu fazia
Se fosse minha, essa gente,
Pois, quando o defunto é meu
Sou eu que pego na frente!
Mourão de 7 pés – É um estilo muito usado nos desafios das cantorias e é formado por uma estrofe de sete linhas, cabendo ao iniciante, a formação de cinco versos, isto é, os dois primeiros e os três finais, enquanto a cargo do segundo cantador ficam os versos de ordem três e quatro. Os pernambucanos Agostinho Lopes dos Santos (AL) e José Bernardino de Oliveira (JB) assim iniciam um duelo:
(AL): Não vá você achar ruim
Esse mourão a doer!
(JB): Eu acredito Agostinho
Naquilo que posso ver!
(AL): Companheiro, não se gabe
Que a pessoa que não sabe,
Agrava a Deus sem querer!
Esse gênero pode ser cantado por três cantadores, como veremos neste exemplo em que Pedra Azul (PA) inicia, Canhotinho (CA), referindo-se a Pinto do Monteiro (PM), que tomava parte do desafio e que recebe a resposta do implacável Pinto do Monteiro:
(PA): Vou dar começo à questão
Pra ver quem ganha no fim!
(CA): Eu morro e não tenho medo
Dum Pinto pelado assim!
(PM): Sou pelado, sem canhão
Por causa de um beliscão
Que tua mãe deu em mim
Décima – Embora de origem clássica, é a décima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da Poesia Popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estância a receber a denominação de glosa. Vejamos um exemplo de um mote sugerido por um dos presentes, em décima desenvolvido por Otacílio Batista:
Mote: Aos pés do monte Calvário
Jesus chorava e gemia!
Junto de dois malfeitores,
Achava-se moribundo:
O Salvador deste mundo
Senhor de todos senhores;
Refúgio dos pecadores;
Dos que sofrem nostalgia.
Se quisesse, sairia
Daquele estado precário
Aos pés do monte Calvário
Jesus chorava e gemia!
Martelo Agalopado – O Martelo atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é uma estrofe de dez versos, em decassílabos, obedecendo à mesma ordem de rima dos versos da Décima. Todavia, sua denominação não vem do fato de ser empregado como meio de os cantadores se martelarem durante as pelejas. Sua significação está ligada ao nome do diplomata francês Jaime de Martelo, nascido na segunda metade do século XVII, que foi professor de literatura na Universidade de Bolonha e criador do primeiro estilo.
Feitas as considerações, sobre o Martelo Agalopado, mostraremos uma estrofe do poeta Lira Flores, citada por Ariano Suassuna, num trabalho sobre cantadores:
Quando as tripas da Terra mal se agitam
E os metais derretidos se confundem
E os escuros diamantes que se fundem
Da cratera ao ar se precipitam
A vulcânicas ondas que vomitam
Grossas bagas de ferro incendiado
Em redor, deixam tudo sepultado
Só com o som da viola que me ajuda
Treme o sol, treme a terra, o tempo muda
Eu cantando Martelo Agalopado
Este gênero belo e difícil, via crucis dos fracos repentistas, é empregado não só nos grandes debates, mas nos trabalhos escritos, em geral.
Existe ainda uma infinidade de estilos, porém acreditamos que estes aqui citados, que são os mais comuns são capazes de esclarecerem o leitor leigo sobre a riqueza de uma cantoria de poetas repentistas.
Texto: Samuel Quintans
Referencial bibliográfico: Antologia Ilustrada dos Cantadores
Referencial bibliográfico: Antologia Ilustrada dos Cantadores
De Francisco Linhares e Otacilio Batista
2a edição - 1982 - Ediçoes UFC - Fortaleza (CE)
2a edição - 1982 - Ediçoes UFC - Fortaleza (CE)