sábado, 27 de julho de 2013

Uma autêntica cantoria de viola

Uma verdadeira cantoria de viola, função (como eram chamada antigamente) ou cantoria de “pé de parede” é feita por duplas de violeiros repentistas, que se revezam nas estrofes, cantando temas escolhidos, motes, desafios ou estrofes soltas (sem tema definido).

A principal característica de uma cantoria de repente é a velocidade com que os versos se desenvolvem e apenas os mais atentos e cuidadosos registrarão o que ali é cantado. Uma cantoria nunca será igual a outra. Dependerá do momento político, social, cultural e econômico do lugar onde ocorre, do público, do nível dos repentistas, da sintonia da dupla e da qualidade dos temas ou motes propostos pela plateia.

A remuneração da dupla acontece mediante a contribuição espontânea numa bandeja colocada numa mesa, à frente dos violeiros, nos moldes dos artistas populares de rua. Ou seja, na fase inicial, os cantadores sentem a plateia e convocam os presentes, cantando suas características, provocando aqueles que têm maior intimidade e “bajulando” os mais abonados e donos da casa para que a bandeja seja cheia.

Que não se iludam os mais inocentes, pensando que essa prática informal de arrecadação seja ineficiente. Afinal, os grandes admiradores do improviso são capazes de contribuições de alto valor, superando muitas vezes, os valores de ingressos de shows de algumas personalidades. Basta uma combinação de estrofes certeiras ou um mote bem conduzido para levar a plateia a loucura.

Numa cantoria existem algumas regras de etiqueta, como por exemplo:
  • Não se conversa em voz alta próximos aos cantadores, a fim de não atrapalhá-los na composição de seus versos;
  • Uma vez presente numa cantoria, deve-se contribuir com algum valor na bandeja dos repentistas (normalmente contribuições muito baixas merecem algumas brincadeiras rimadas dos cantadores, o que diverte muito o público);
  • Sempre que alguém da plateia sugere ou pede algum tema, deve se dirigir até a mesa dos cantadores e fazer uma contribuição expontânea na bandeja dos mesmos;
  • Normalmente, quando se tratar de mote (versos que fecham uma estrofe), a pessoa que sugere normalmente já o constroi dentro de um padrão de metrica e rima (o cantador pode fazer os ajustes para entrarem na forma correta);
  • Num desafio, os cantadores sempre respeitam as crianças, mulheres e os donos da casa, adequando a linguagem a este público;
  • Cantadores dignos do improviso jamais se apresentam com trabalhos prontos, ou seja, tudo nasce ali e na hora.
  • Os cantadores geralmente não pagam suas contas nos estabelecimentos ou casas que tocam e geralmente um jantar é servido a eles, como forma de agradecimento pela presença.

    Texto: Samuel Quintans
    Referencial bibliográfico: Antologia Ilustrada dos Cantadores
    De Francisco Linhares e Otacilio Batista
    2a edição - 1982 - Ediçoes UFC - Fortaleza (CE) 


sábado, 20 de julho de 2013

Severino Borges - Exposição Marcas do Tempo

Menino que nasceu em Escada e cresceu na pacata Bezerros (PE), brincando e jogando bola na rua, subindo em árvores, pulando muros e fugindo da mãe para ouvir histórias cantadas nas feiras da cidade, Severino viveu a liberdade de outros tempos. 

Era o auge da literatura de cordel - uma mistura de jornalismo rústico e romanceiro da caatinga - que determinou a identidade cultural de gerações de brasileiros. Entre eles, Severino, que teve na forte presença paterna o alicerce de sua formação moral e artística. 

Filho de Amaro Francisco Borges e sobrinho do grande mestre J. Borges, Severino Borges conviveu com a xilogravura desde criança e estimulado pelo pai, começou a trabalhar com a arte em Olinda (PE) e aos poucos foi conquistando o seu espaço e seguindo os mesmos passos dos seus mentores.

O maior sonho deste moço é ver a xilogravura reconhecida entre os mais novos, apresentada como arte, nas salas de aula.

Severino Borges, menino do interior, filho do sertão, busca inspiração no folclore, no cotidiano popular, nas histórias encantadas que o povo conta e que ele transforma de forma singela em desenhos maravilhosos que teremos o prazer de conhecer na exposição “Marcas do Tempo”, no SESC Campinas, entre 17 e 31 de agosto de 2013.